Li no caderno Razão Social do Jornal O Globo de 13 de março de 2012, uma reportagem de Martha Neiva Moreira, sobre o trabalho que é feito pela ONG Saúde Criança, e achei bastante interessante multiplicar.
A ONG Saúde Criança, entre outros casos, acompanha o tratamento de um menino há pouco mais de um ano no Hospital da Lagoa, Ricardo Oliveira. Trata-se de uma criança de 8 anos que sofre de anemia falciforme, residente numa comunidade de baixa renda de Vila Rosário (Duque de Caxias/RJ), cujas casas são casebres pequenos, sem reboco e sob calor intenso.
“... a temperatura alta pode acentuar sintomas da doença, como dores, dificuldade de respirar e fadiga. Por isso, no coquetel de tratamento, além dos remédios e consultas freqüentes, foi incluído um Plano de Ação Familiar.
O plano é a principal ferramenta da entidade, que há 21 anos atua na área de saúde infantil para melhorar a qualidade de vida das crianças atendidas e suas famílias.
Definido como uma tecnologia social pela pediatra Vera Cordeiro, fundadora da Saúde Criança, o plano já contribuiu para reduzir em 60% a quantidade de internações dos pequenos pacientes e aumentar em 35% a renda de seus familiares. A metodologia consiste em estabelecer metas em cinco áreas – moradia, cidadania, educação, saúde e renda –, para serem alcançadas em dois anos. No caso do Plano de Ricardo, além da reforma da casa, que ganhou reboco, tinta e mais três cômodos, foi preciso instalar um filtro para acabar com o hábito familiar de beber água da bica; ensinar a fazer gestão de resíduos, para que o lixo não ficasse acumulado no quintal causando mau-cheiro e atraindo bichos; e implantar um programa alimentar.
Cristiane de Oliveira, 36 anos, mãe do garoto, que ainda deve cumprir a meta de gerar renda com o artesanato que produz, comemora o fato de o filho ter reduzido o número de internações ano passado. Até 2011, ele costumava ser internado mês sim, mês não. No último ano, porém, foram apenas três.
– Os remédios ajudam e são necessários, mas tínhamos maus-hábitos como beber água da bica e não comer nenhum legume ou verdura. Além disso, acumulávamos lixo no quintal. Por conta do plano, consegui até solicitar à Prefeitura de Duque de Caxias que viesse à comunidade para recolher o lixo acumulado no barranco ao lado de casa. Também já estou mobilizando os outros moradores para não deixar acumular o lixo no quintal – contou Cristiane que vive no casebre com o marido e mais três filhos e conta com uma renda mensal de cerca de pouco mais de um salário mínimo.”
Continuo destacando na reportagem: “ A idéia de usar o Plano de Ação Familiar como ferramenta no tratamento das crianças, surgiu depois que Vera constatou que os hábitos da pobreza dificultam o tratamento das crianças.
– As doenças, são muitas vezes, resultado das faltas que o indivíduo sofre vivendo em situação de pobreza. A questão é que a pobreza é multidimensional. Para tratar um paciente que vive nesse ambiente, não adianta só dar remédios. É preciso tratar o ambiente em que ele vive e sua família,. Conseguimos pensar numa estratégia, que é o Plano de Ação Familiar, posto em prática com o compromisso das famílias e parceria das empresas que nos apóiam para promover as reformas de moradias, oferecer cursos de capacitação, entre outras iniciativas que estão na lista de metas – contou Vera.”
Como resultados do Saúde Criança, a repórter destaca que já foram beneficiadas 40 mil crianças em todo o país, abrangendo 12 estados.
Considero que este é um belo exemplo para inspiração e reflexão sobre políticas públicas e parcerias que podem ser construídas. Trata-se de uma ação baseada numa visão holística da saúde, onde através da atuação da ONG busca-se cobrir ausências, ou mesmo, ampliar a abrangência e alcance das políticas públicas.
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Juçara Cerqueira (Psicoterapeuta da Humanitá)
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